E então..
- E então.. e se nos ficássemos juntos? - Ela sussurrou.
- Juntos... juntos? Como? Se resolvêssemos tentar?
- Isso, é, tentar.. sabe.
- Bom, eu acho que eu te chamaria para sair, então.
- E eu já aceitaria de imediato, logo perguntando quando.
Ele sorriu satisfeito, solvendo um gole de sua bebida.
- Ai nos sairíamos outras vezes, sabe.. se você quisesse, se nos déssemos bem..
- Suponha que nos daremos bem... - ela disse rapidamente.
- Ah sim, nesse caso.. eu logo roubaria um beijo seu, nos primeiros encontros...
- Roubaria?
- Acho que sim - ele sorriu, como quem se desculpa, sem um pingo de constrangimento, no entanto.
- Eu adoraria isso... retribuiria e continuaríamos saindo.. e então?
- Ai nos começariamos a namorar, é fácil te imaginar como namorada..
- A imagem de você como namorado também não é difícil, para mim
- Mesmo?
- Sim, é...
Um longo olhar trocado, cada um querendo ler os pensamentos do outro. Sorrisos discretos, mãos tremulas.
- Bom, se o nosso relacionamento começasse a ficar sério, depois de algum tempo... por mim, ai iríamos morar juntos e.. bom, casar até, talv...
- Sabe, não me imagino casada - ela interrompeu rapidamente a fala dele.
- Nem eu, é. - uma falha de decepção na voz dele, que ela notou com certa felicidade contida.
- Mas posso me imaginar como sua esposa..
- Casar poderia ser bom, talvez, se fosse com você..
- Você acha?
- Posso me imaginar, apaixonado, colocando uma aliança no seu dedo.
- Acho que poderia suportar o peso de uma aliança sua, em minha mão.
- Poderia?
- Sim.. e posso me ver te amando, também.
- E supondo que nos déssemos bem e estivessemos tão apaixonados, talvez jamais nos separássemos.
- Mas e se não fosse assim?
- Como? - ele indagou, franzindo de imediato o cenho.
- E se.. ah, eu logo me cansaria de ser esposa.. brigaríamos, eu te deixaria.. se o contrario não acontecesse, antes. Eu te deixaria.
- Eu faria por merecer..
- Faria? Como tem tanta certeza?
- Eu sempre estrago tudo. Eu não presto.
- Eu não sou melhor.. presto menos ainda.
- Não acredito. Mas sim.. se cansaria e...? - visivelmente curioso.
- Ah, ou não, ou talvez rompêssemos por qualquer outro motivo, provavelmente ainda nos amando.
- Ai eu demoraria a te esquecer.
- Eu choraria todas as noites, nos primeiros tempos depois.
- Você é de chorar muito?
- Não, na verdade, eu não choro quase. Mas criaria o habito.
- Habito?
- Se eu te perdesse, se tornaria um habito.
- Habito.
- Isso.
- Nos amando desse jeito, seria um rompimento horrível.
- Algum dos lados sairia destruído
- Ou ambos
- Posso me ver sentindo absurdamente a sua falta.
- Sim, a mesma imagem vem a minha cabeça...
- Posso me imaginar escrevendo poemas e textos tristes, me inspirando em você.
- Você é de escrever?
- Não tanto...
- Então criaria o habito após o nosso rompimento..
Ela não respondeu, mas sorriu, admirada de ele a conhecer tão bem, como sempre.
Ele fitou os olhos escuros dela, igualmente sorrindo, como se ela houvesse descoberto a senha para a sua alma, a livre entrada de seus sentimentos.
- Talvez déssemos certo... - Ele rompeu o silencio.
- Ou morreríamos tentando, é bem mais provável, morreríamos quando acabasse.
A voz era um sussurro triste, derrotado mas os olhos seguiam faiscando nos dele, com talvez.. quem sabe.. talvez até esperança.
- Nunca daríamos ou daremos certo, não há como tentar, seria horrível - Murmúrio, dele.
Eles não podem dizer quanto tempo o silencio durou, presos nessa troca de olhares. Mas ele, novamente, rompeu o silencio:
- Vamos ficar juntos?
- Vamos - sussurro, dela.
(autor desconhecido)